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HISTÓRIAS DE PACIENTES

“PERTENCER 

 

Era uma segunda-feira do mês de julho, uma tarde fria, cinzenta e chuvosa.

“-Juliana, infelizmente eu não trago boas notícias...”.

Embora eu já desconfiasse do diagnóstico, porque entre a data da biópsia e o resultado do exame foram três dias e três noites de muita pesquisa e reflexão, eu ainda contava com o benefício da dúvida, até porque é da minha natureza achar que as coisas sempre vão dar certo e que o dia será ensolarado.

Eu estava prestes a completar trinta e oito anos, tinha sido mãe bem jovem, tinha um filho de catorze e uma filha de cinco anos (ambos amamentados quando bebês), estava no auge da minha forma física, corria, nadava, era magra, não fumava, bebia pouco e socialmente, não era estressada, não tinha casos de câncer na família e assim eu respondia a uma série de outros nãos a todas as perguntas que me faziam em relação aos possíveis fatores de risco, mas aconteceu comigo.

Era câncer de mama. Um triplo negativo - que sempre me pareceu mais um nome de um salto mortal de ginástica olímpica, tal como um triplo twist ou duplo mortal carpado- .

Durante os 9 meses que sucederam - uma gestação de mim mesma - eu fiz 6 ciclos de quimioterapia, uma cirurgia e 30 sessões de radioterapia. 

Nunca me fiz a tal pergunta: “por que eu?”. Essas coisas acontecem, é da natureza, faz parte do próprio mistério da vida. Não foi nada fácil enfrentar algo tão grande, desconhecido, imprevisível e perigoso, mas não reclamei de nada, talvez porque me considerava uma pessoa privilegiada por ter a oportunidade de ser assistida e cuidada pelos melhores médicos - o que foi fundamental para atravessar a tormenta-, mas uma sensação estranha me acompanhava constantemente e custou muito a passar, algo difícil de explicar: um não pertencer.

Tudo isso aconteceu há nove anos e desde então comemoro os meus dois aniversários - nascimento e renascimento-, com muita alegria e grata por PERTENCER (que parafraseando Carlos Drummond de Andrade, é verbo intransitivo).”

 

 

Juliana 

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